340 - De uma carta para Christopher Tolkien

Então gente, essa é a primeira postagem do blog e achei justo que falassemos de Tolkien, já que esse foi o grande motivo para a criação do mesmo.
Hoje falarei sobre o livro Cartas, que como o nome já diz, é uma coletânea de diversas cartas enviadas por Tolkien durante a vida. Esse seja talvez um dos livros que tenha mais ciúme na minha estante. =D
Dentre as diversas cartas ali presentes, uma me chama bastante atenção e confesso, me emociona.
Essa carta foi enviada por Tolkien para seu filho, Christopher, logo que sua esposa morreu. Quem acompanha a história de Tolkien sabe o tamanho do amor que o mesmo tinha por Edith, sua Luthien.
Espero que assim como eu, gostem e se emocionem com ela.


340 - De uma carta para Christopher Tolkien
    11 de julho de 1972

Finalmente me ocupei com o túmulo de Mamãe..... A inscrição que eu gostaria é:
                                              EDITH MARY TOLKIEN
                                                        1889 — 1971
                                                             Lúthien

: breve e seco, exceto por Lúthien, que me diz mais do que uma quantidade imensa de palavras: pois ela era (e sabia que era) minha Lúthien*.

13 de julho.
Diga o que você acha, sem reservas, sobre esse acréscimo.
Comecei isso sob o estresse de grande emoção e pesar — e, de qualquer forma, sou afligido de vez em quando (progressivamente) por uma sensação esmagadora de perda. Preciso de conselhos. Mesmo assim, espero que nenhum de meus filhos ache que o uso desse nome é um capricho sentimental.
De qualquer modo, não é comparável à citação de apelidos carinhosos em Obituáríos. Nunca chamei Edith de Lúthien — mas ela foi a fonte da história que no devido tempo tornou-se a parte principal do Silmarillion. Foi primeiramente concebida em uma pequena clareira em um bosque repleta de cicutas em Roos em Yorkshire (onde por um breve período estive no comando de um posto avançado da Guarnição Humber em 1917, e pôde morar comigo por um tempo). Naqueles dias seu cabelo era preto, sua pele clara, seus olhos mais brilhantes do que você os viu, e ela sabia cantar — e dançar. Mas a história deu errado e fui deixado, e eu não posso implorar diante do inexorável Mandos.
Não direi mais agora. Mas gostaria de em breve ter uma longa conversa com você. Pois, como parece provável, jamais escreverei qualquer biografia exigida — é contra minha natureza, que se expressa sobre coisas profundamente sentidas em histórias e mitos —, alguém próximo a mim no coração deve saber algo sobre coisas que os registros não registram: os terríveis sofrimentos de nossas infâncias, dos quais resgatamos um ao outro, mas não pudemos curar completamente as feridas que mais tarde com freqüência se mostraram incapacitantes; os sofrimentos que suportamos depois que nosso amor começou — todos os quais (além de nossas fraquezas pessoais) poderiam ajudar a tornar perdoáveis, ou compreensíveis, os lapsos e escuridões que de vez em quando frustravam nossas vidas — e a explicar como estes nunca tocaram nossos íntimos nem turvaram as lembranças de nosso amor juvenil. Pois ainda sempre (especialmente quando sozinhos) nos encontrávamos na clareira do bosque e andávamos de mãos dadas muitas vezes para fugir da sombra da morte iminente antes de nossa última
despedida.

15 de julho.
 Passei o dia de ontem em Hemel Hempstead. Um carro foi enviado para mim e fui aos novos escritórios (cinzentos e brancos) e livrarias da Allen & Unwin. A esta fiz uma espécie de visita oficial, como uma realeza menor, e fiquei um tanto assustado ao descobrir que a principal firma de toda essa organização de muitos departamentos (da Contabilidade ao Despacho) estava cuidando de minhas obras. Tive uma grande recepção (e um almoço m.b.) e entrevistei todos do conselho administrativo para baixo. A “Contabilidade” me disse que as vendas de O Hobbit estavam agora chegando a alturas não alcançadas até então. Além disso, um grande pedido de exemplares de O S.A. acabara de chegar. Quando não mostrei exatamente a
surpresa gratificada que era esperada, disseram-me gentilmente que um único pedido de 100 exemplares costumava ser satisfatório (e ainda o é para outros
livros), mas esse para O S.A. era de 6.000.

         * Ela conhecia a forma mais antiga da lenda (escrita no hospital) e também o poema eventualmente impresso como a canção de Aragorn em SA.







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